The Kleptones é o projeto idealizado pelo DJ de Brighton Eric Kleptone (entenderam o trocadilho com Eric Clapton?).
“O Kleptones entende que a reciclagem de estilos musicais é uma tradição popular mais velha que o blues. Mas os tempos mudaram. O Kleptones não é tanto uma banda, mas um exercício de marketing. Será que esses caras realmente precisam de mais dinheiro?”, diz o about deles no site.
Eric já tocou em diversas edições da Bootie e, ao saber da edição carioca da festa, dispôs-se a fazer esta entrevista, por email, e nos surpreendeu como fã de João Brasil, bossa-nova e tropicalismo. Caracas, esse cara tá dando o maior mole pra vir na Bootie Rio!
E não é que ele vem? Dia 17 de setembro, no Fosfobox!
Confira o papo abaixo:
Como o The Kleptones começou?
Um homem apareceu numa torta flamejante e disse que, dali em diante, nós seríamos Kleptones, com “K”, e que roubaríamos tudo dos outros. Então nós dissemos “oh, muitíssimo obrigado Sr.Homem!”, e cá estamos nós!
A maioria dos seus primeiros mashups misturava hip-hop com rock. Desde “24 Hours”, você começou a incluir mais samples de música eletrônica. Você tem escutado mais música eletrônica desde então?
Na verdade, meu gosto musical não mudou muito. Eu gosto de praticamente todos os tipos de música, então é mais uma questão de qual gênero musical é mais apropriado ao momento. Apesar disso, eu admito que ter feito mais gigs em boates acabou tornando essa pegada techno/house/electro mais evidente, mas é por isso que fazemos coisas como o “Downtime” (segunda parte do último álbum do Kleptones, “Uptime/Downtime”). Nem tudo precisa ser quebradeira!
Sobre a última pergunta: escutar mashups dos outros artistas teve alguma influência nessa mudança?
Só o fato de me permitir saber quais músicas estão sendo usadas excessivamente 😉 Eu gostaria de ter mais tempo para escutar mashups. Basicamente, eu os escuto quando toco com outros produtores… ando muito ocupado produzindo os meus!
Você tem alguma recomendação sobre produtores novos e/ou bons de mashup?
Bem, levando em consideração a última pergunta, tenho escutado MadMixMustang, LeeDm101 e Mashup-Germany.
Você anda escutando algum artista da cena brasileira de mashups?
Ainda não, embora o Projeto 365, do João Brasil, seja muito doido – eu acho que ele vai enlouquecer até o fim do ano! Mande-me alguns links!
E, além dos nossos heróis locais do mashup, você escuta música brasileira?
Sim, apesar de não transparecer na música, ainda. Escuto basicamente os clássicos da Tropicália e da Bossa Nova – Cateano Veloso, Jobim, Baden Powell, Deodato, Os Mutantes –, e meu favorito é, provavelmente, Jorge Ben. Também estou adorando cumbia, embora isso não seja um som tipicamente brasileiro!
O que você acha do fato dos mashups transformarem ritmos locais (como a cumbia e o funk carioca) em hits de pistas de dança ao redor do mundo?
Isso é sempre uma coisa boa. As pessoas têm criado variações regionais de gêneros por décadas, portanto é ótimo que eles possam chegar a outros lugares com tanta facilidade. Pode-se criar um mashup com funk no Brasil e alguém tocá-lo numa boate em Londres ou na Austrália no dia seguinte.
Por falar em pistas de dança, você já tocou em várias edições da Bootie e, portanto, pode se considerar um veterano da festa. Como é a experiência de se apresentar em uma festa tão grande?
Veterano? Acho que tudo é relativo. O The Kleptones existe há apenas uns 6 ou 7 anos! Mas ir à Bootie é uma das melhores coisas que tem para se fazer! Eu fico 100% encantado com todas aquelas pessoas de mente aberta para ouvir e dançar. Se eu é que estou fornecendo a música, melhor ainda! A cabeça aberta é a coisa mais importante de todas…como um sábio disse uma vez “Free your mind…and your ass will follow”.
Que tipo de equipamento você está usando em suas apresentações?
Estou rodando o Ableton Live num notebook com Windows – nada de Mac! Eu também utilizo vários controladores Faderfox e estou experimentando um Launchpad que acabei de comprar. Agora eu também trabalho com um videomaker, mas a maior parte do trabalho dele é um mistério para mim, e eu gosto assim!
Há 2 anos, a Disney (detentora dos direitos sobre o catálogo do Queen) enviou um C&D (Cease and Desist) para o principal site de hospedagem seu segundo disco, “A Night At The Hip-Hopera”, exigindo a remoção do seu trabalho do site. Qual foi a sua reação?
Agradeci pela publicidade! Por conta disso, o número de pessoas que ouviu falar de nós explodiu. Hoje em dia, um C&D é comum, mas os primeiros tiveram um impacto muito forte. Assim que algo se torna ilegal, todos querem escutar. Apesar disso, fiquei e ainda estou muito desapontado com a maneira que a indústria reage aos mashups. A maioria dos artistas novos disponibiliza seu material bruto para as pessoas misturarem e remixarem, pois perceberam que é um meio importante de fazer com que seu trabalho alcance o maior espectro possível de pessoas. Mas a velha guarda ainda tem muito medo dos mashups, o que é vergonhoso por se tratar de publicidade grátis para eles!
E qual a sua opinião sobre os problemas atuais envolvendo direitos autorais e copyright na indústria musical?
Estamos chegando ao fim da Era de Ouro. As grandes empresas estão tomando as rédeas em vários países, inclusive o meu, por meio de lobbies para criminalizar tudo o que eles vêem como atividade ilegal, o que obviamente tem um efeito negativo sobre todos que fazem música do mesmo jeito que nós. Mas isso é tão confuso para todos – ninguém sabe ao certo o que é legal e o que não é mais, porque muitos estão dispostos a disponibilizarem seus samples de graça (literalmente!). Isto não significa que as coisas estão ficando mais calmas. As maiores batalhas ainda serão travadas, e sangue digital será derramado.